I SNEA – Atas

OS LIMPADORES DE ESTRELAS: O CONTO DE LITERATURA FANTÁSTICA NO ENSINO DE FÍSICA (CO9)

Autores:

João Eduardo Fernandes Ramos (USP, EACH/USP.ICA NO ENSINO DE FÍSICA), Luís Paulo Piassi (USP, EACH/USP.ICA NO ENSINO DE FÍSICA)

Palavras-chave:

literatura fantástica, contos, física e arte

Muito tem se discutido sobre as diferentes formas didáticas para o ensino de física. Discussões estas que podem, sem perda de generalidade, ser aplicadas ao ensino de astronomia. É neste panorama que desde os trabalhos de Zanetic (1989, 2005, 2006), tem-se proposto o uso da física como ferramenta cultural, ou seja, a utilização da sua interação com as mais diversas áreas do saber, como a arte. Estas interações são importantes e necessárias, uma vez que o olhar artístico sobre a ciência possibilita diferentes visões da mesma, transformando assim, um conceito puramente técnico em um texto acessível e até poético.

Neste trabalho, apresentamos uma proposta, voltada à alunos do ensino médio, que parte da utilização de um conto de literatura fantástica como uma introdução para o estudo da astronomia. Este trabalho se mostra pertinente, no sentido que, além de possibilitar a alfabetização científica do aluno, ao introduzir conceitos relativos a mesma, também contribui para sua formação como leitor. Leitor este, pensado na perspectiva freiriana de leitura da palavra precedida de uma leitura do mundo.

Propomos a utilização do conto, uma vez que o mesmo, apresenta uma estrutura narrativa curta que necessita de uma a duas horas de leitura, ou de uma sentada só, como propõe o escritor Edgar A. Poe. Esta construção narrativa permite, entre outras coisas, que a leitura do conto seja intensa, uma vez que a economia de recursos narrativos, faz com que a história seja focada num determinado acontecimento. Além do mais, esta curta duração, pertime que a leitura do material proposto, seja realizada em apenas uma aula, como já foi testado em trabalhos posteriores (PIASSI; PIETROCOLA, 2007).

Somado ao conto, apresentamos a proposta do uso da literatura fantástica. Um gênero que tem como característica principal a hesitação entre o real e o sobrenatural; ou o estranho e o maravilhoso. Dessa maneira, esta hesitação cria um equilibrio instável, no leitor implicito, o qual passa a questionar a realidade na qual se está inserido. Questionamento este que nos convida a pensar sobre o espantoso absurdo da existência que vivemos.

De posse deste aporte teórico, partimos para a escolha de um conto fantástico, que possibilitasse um diálogo com os temas científicos. Dentre os materiais estudados, escolhemos o conto ‘Los limpadores de estrellas’, presente no livro La Otra Orilla (1945), do escritor argentino Julio Cortázar (1914 – 1984), que narra a história de uma sociedade que trabalha limpando as estrelas do céu e deixando-o mais lindo ao devolver o brilho que a poluição e o tempo lhes tinham tirado. No entanto, ao limparem todas as estrelas, algo inesperado e trágico ocorre à toda humanidade; fato este que nos faz refletir sobre o progresso científico e os valores humanos. Além do mais, durante a leitura, podemos perceber que o conto é permeado de conceitos científicos como magnitude e classificação das estrelas, distância interestrelar e o efeito Doppler.

A principal conclusão do nosso trabalho, é mostrar que no aparente abismo entre a literatura e a física, é possível encontrarmos elementos que permitem um diálogo enriquecedor na sala de aula.

Arquivo do Trabalho: 

SNEA2011_TCO9