I SNEA – Atas

ASTROS NO ROCK: O DISCURSO SOBRE A ASTRONOMIA NO ROCK N’ ROLL E SUAS POSSIBILIDADES DIDÁTICAS (CO6)

Autores:

Emerson Ferreira Gomes (USP/Programa de Pós-graduação Interunidades em Ensino de Ciências), Luís Paulo de Carvalho Piassi (USP/Escola de Artes, Ciências e Humanidades)

Palavras-chave:

ensino de astronomia, análise de discurso, estudos culturais

A utilização da música no Ensino de Ciências é um tema que vem sendo abordado em algumas publicações e em eventos da área. No caso da Educação em Astronomia, convém destacar a pesquisa de Andrew Fraknoi (2007), que realizou um levantamento de composições musicais que podem ser utilizadas no processo de ensino-aprendizagem.

Pretendemos com este trabalho identificar o discurso sobre a astronomia presente em algumas canções das bandas The Byrds, Pink Floyd, Mutantes e David Bowie. Tais músicas, escritas e gravadas no final da década de 1960, estão inseridas no gênero “space rock”. Como referencial discursivo, utilizaremos a análise de discurso derivada dos trabalhos de Mikhail Bakhtin, que considera que um produto cultural, possui um caráter ideológico, que “reflete e refrata uma realidade que lhe é exterior”. No âmbito educacional, nos remetemos ao pedagogo francês Georges Snyders, que afirma que o espaço escolar é um ambiente onde a “cultura primeira” trazida pelo estudante deve ser incorporada ao processo educacional, no sentido que traz a satisfação ao educando. Além disso, Snyders afirma que o rock é um estilo que possibilita ao estudante uma satisfação cultural que liga às aspirações da “cultura elaborada”, representado pelo conhecimento escolar.

Uma canção popular, de acordo com o pensamento bakhtiniano, reitera as condições sócio-históricas em seu contexto de produção. No caso do rock, é possível identificar no discurso de suas letras visões sobre o conhecimento científico de sua época. Podemos identificar canções em que o conhecimento astronômico: aparece a partir de uma interlocução com a ficção científica (como é o caso de  “Space Oddity”, do inglês David Bowie, e de “2001”, de Tom Zé e Rita Lee, gravada pela banda brasileira Mutantes); se relaciona com as descobertas científicas ( um exemplo é música “CTA – 102”, lançada pela banda estadunidense The Byrds em 1967, que reflete as exaltações populares, referente à descoberta de um quasar no início da década de 1960).

Outro grupo musical que tem fenômenos astronômicos explícitos em suas canções é o inglês Pink Floyd. A música “Astronomy Dominé”, lançada originalmente em 1967 aborda a contemplação do homem perante o espaço sideral, numa poesia que tange a arte surreal e, conforme afirma Whiteley (2002, 33), busca “escapar de um senso de tempo racional”. O enunciado dessa canção se forma através de uma descrição dos astros observados pelo sujeito da canção, esses corpos celestes são representados por planetas (Júpiter, Saturno e Netuno), satélites (Oberon, Miranda, Titânia e Titã) e estrelas.

Para Andrew Fraknoi (2007, pág. 144) “muitos estudantes” sentem-se inseguros ao iniciar “cursos introdutórios de ciência”. Neste caso, o pesquisador defende que pode ser “tranquilizador” para os estudantes desses cursos terem a “noção de que músicos de rock estão excitados” quanto aos conceitos que aprenderão. Complementamos a hipótese do astrônomo e educador estadunidense com o pensamento de Snyders, entendendo que o rock seria uma ponte entre a cultura primária do estudante com a cultura elaborada fornecida pelo conhecimento em Astronomia.

Arquivo do Trabalho: 

SNEA2011_TCO6.pdf