I SNEA – Atas

REPRESENTAÇÕES DO ESPAÇO E DAS VIAGENS ESPACIAIS EM “2001: UMA ODISSEIA NO ESPAÇO” E SEUS ASPECTOS EDUCACIONAIS (CO11)

Autores:

Luís Paulo Piassi (EACH/USP)

Palavras-chave:

viagens espaciais, cinema, ensino de ciências, ficção científica, representações ideológicas

O filme “2001: Uma Odisseia no Espaço”, dirigido por Stanley Kubrick (2001) , que escreveu seu roteiro com o celebrado  escritor de ficção científica Arthur Clarke é considerado por muitos críticos como uma das mais importantes obras da história do cinema. Trata-se de um filme que é bastante lembrado quando se trata de aplicações didáticas, particularmente no ensino de ciências. Cenas que mostram claramente situações realistas de movimentos em espaço orbital, por exemplo, têm sido usadas por diversos autores como estímulo ao ensino de conceitos ligados a movimento, inércia, gravidade e referenciais. Nesse trabalho, procuramos estabelecer, a partir do referencial da semiótica greimasiana e suas derivações, vinculações de sentido que permitam extrair alguns aspectos da visão ideológica a respeito do espaço e das viagens espaciais.  A semiótica francesa considera todo texto, verbal ou não verbal, a partir de seu aspecto narrativo e aborda a produção de sentido a partir de três níveis de abstração, denominados discursivo, narrativo e profundo, sendo o primeiro deles o mais superficial e complexo e o último o mais simples a abstrato. A relação interdependente desses três níveis é denominada percurso gerativo do sentido. O trecho da obra que iremos analisar é a segunda parte da história, que narra a ida do especialista do Conselho Nacional de Astronáutica, Dr. Heywood Floyd a uma base lunar supostamente norte-americana situada na cratera Clavius. O cientista parte da Terra em um veículo espacial similar a um avião,  faz uma escala em uma estação espacial orbital e dirige-se à Lua em um veículo espacial de formato esférico, que alunissa na base. Sua missão é elaborar um relatório a respeito da descoberta de um artefato enterrado deliberadamente no solo lunar há 4 milhões de anos, para embasar decisões a respeito de como e quando comunicar tal descoberta sensível ao público em geral. Chegando na Lua, após instruções o Dr. Floyd dirige-se ao local da descoberta em um veículo lunar aéreo de formato semelhante a um furgão. Nossa análise em três níveis considera a articulação entre o texto verbal, a trilha sonora e a sequência de cenas. Verificamos que o trecho considerado dá uma clara ênfase à exibição dos veículos e artefatos espaciais, bem como de fenômenos físicos e astronômicos observáveis no contexto das viagens espaciais nas proximidades da Terra. Por meio da valsa Danúbio Azul de Strauss, a trilha sonora empresta um tom solene e poético a tais artefatos e fenômenos. Do ponto de vista educacional, tal interpretação pode servir de guia para a elaboração de atividades e programas didáticos que visem não apenas a veiculação de conceitos científicos, mas também a discussão da representação ideológica da ciência, da natureza e da tecnologia na mídia e sua relação com o contexto sócio-histórico em que tais discursos são produzidos.